Cartas

Hoje estive triste, insegura, angustiada.  Quando estou assim me pergunto como posso também ser aquela outra, entusiasmada, de olhos bem abertos para o mundo à sua volta.  Andei me perguntando qual delas sou de fato. Sei que sou as duas, mas elas voltam as costas uma à outra, e me deixam às vezes meio perdida no meio do caminho.  Fiquei pensando em voltar a tomar um antidepressivo que tomei há uns tempos.  Mas acho que não estou disposta a ser ainda mais uma, mascarada pelo efeito do medicamento. Hoje é assim, estou meio Fernando Pessoa. Agora à noite estou melhor. Vou ler cartas antigas antes de dormir.  Abri uma caixa cheia de cartas que recebia quando estava longe de meus amigos, de minha  família, muitos anos atrás.  O tempo tinha um outro ritmo. E ele passou tanto! Estou com a mesma expectativa de quando as abri para lê-las pela primeria vez. Mas hoje, justamente porque tanto tempo passou, receio o que elas vão me dizer. 
María / Carolina/ Brasil